Escândalos na Igreja
O Pe. Roger J. Landry foi ordenado sacerdote em 1999 na diocese de Fall River pelo bispo Sean O’Malley, OFM Cap.. Depois de obter a licenciatura de biologia pela Universidade de Harvard, o Pe. Landry fez seus estudos para o sacerdócio em Maryland, Toronto e, durante vários anos em Roma. Depois de sua ordenação sacerdotal, o Bispo O’Malley o enviou de regresso para Roma para concluir seus estudos de graduação em teologia moral e bioética. Atualmente é vigário paroquial na Paróquia do Espírito Santo em Fall River e capelão na escola secundária Bishop Connoly.
Qual deve ser a nossa resposta aos terríveis escândalos na Igreja?
Muitas pessoas vieram-me falar deste assunto. Muitas outras também gostariam, mas evitaram, creio que por respeito e para não chamar a atenção para um fato desagradável. Mas para mim era óbvio que tinham isso presente. Por isso, hoje, quero enfrentar este assunto de frente. Vocês têm direito. Não podemos fingir como se não houvesse acontecido. E eu quero debater qual deve ser a nossa resposta como fiéis católicos a este terrível escândalo.Primeiramente, é preciso entender o acontecimento à luz da nossa fé no Senhor. Antes de escolher seus primeiros discípulos, Jesus subiu a montanha para orar durante toda a noite. Nesse tempo tinha muitos seguidores. Falou com seu Pai na oração sobre quais escolheria para que fossem seus doze apóstolos, os doze que Ele formaria intimamente, os doze que enviaria a pregar a Boa Nova em Seu nome. Deu-lhes poder de expulsar os demônios. Deu-lhes poder para curar os doentes. Eles viram como Jesus operou muitos milagres. Eles mesmos fizeram, em Seu nome, numerosos milagres.
Mas, apesar de tudo, um deles foi um traidor. O traidor tinha seguido o Senhor, tivera os pés lavados pelo Senhor, O viu caminhar pelas águas, ressuscitar pessoas e perdoar os pecadores. O Evangelho diz que ele permitiu que satanás entrasse nele e logo vendeu o Senhor por 30 moedas, e entregou-o no Horto de Getsêmani, simulando um ato de amor, um beijo. “Judas!”, disse o Senhor no horto do Getsemani, “com um beijo entregas o Filho do Homem”. Jesus não o escolheu para que o traísse. Ele o escolheu para que fosse como os demais. Mas Judas foi sempre livre e usou sua liberdade para permitir que satanás entrasse nele e, por sua traição, terminou fazendo com que Jesus fosse crucificado e morto. Portanto, entre os primeiros doze que o próprio Jesus escolheu, um deles foi um terrível traidor. ÀS VEZES, OS ESCOLHIDOS DE DEUS TRAEM. Este é um fato que devemos assumir. É um fato que a Igreja primitiva assumiu. Se o escândalo de Judas tivesse sido a única coisa com que os membros da Igreja primitiva tivessem se preocupado, a Igreja teria acabado antes de começar. Em vez disso, a Igreja reconheceu que não se deve julgar algo (religioso) a partir daqueles que não o praticam, mas olhando para os que praticam.
Em vez de ficarem paralisados em torno daquele que traiu Jesus, concentraram-se nos outros onze. Graças ao trabalho, pregação, milagres e amor por Cristo desses homens, aqui estamos hoje. É graças aos onze - todos os quais, exceto São João, foram martirizados por Cristo e pelo Evangelho, pelo qual estiveram dispostos a dar suas vidas para proclamá-lo - que nós chegamos a escutar a palavra salvífica de Deus e recebemos os sacramentos da vida eterna.
Somos hoje confrontados pela mesma realidade. Podemos concentrarmo-nos naqueles que traíram o Senhor, naqueles que abusaram, em vez de amar a quem estavam chamados a servir. Ou podemos como a Igreja nascente, concentrarmo-nos nos demais, naqueles que permaneceram fiéis, nesses sacerdotes que continuam oferecendo suas vidas para servir a Cristo e para servir a todos por amor. Os meios de comunicação quase nunca prestam atenção aos “onze” bons, aqueles a quem Jesus escolheu e que permaneceram fiéis, que viveram uma vida de santidade silenciosa. Mas nós, a Igreja, devemos ver o terrível escândalo que estamos testemunhando a partir de uma perspectiva autêntica e completa.
O escândalo, infelizmente, não é algo novo para a Igreja. Houve muitas épocas em sua história em que esteve pior do que agora. A história da Igreja é como a definição matemática do cosseno, ou seja, uma curva oscilatória com movimento pendular, com altos e baixos ao longo dos séculos. Em cada uma dessas épocas em que a Igreja chegou ao ponto mais baixo, Deus suscitou grandes santos que levaram a Igreja de volta a sua verdadeira missão. Como se naqueles momentos de escuridão, a Luz de Cristo brilhasse mais intensamente. Eu gostaria de destacar um par de santos que Deus suscitou nesses tempos tão difíceis, porque sua sabedoria pode realmente nos guiar durante este tempo difícil.
São Francisco de Sales foi um santo que Deus fez surgir justamente depois da reforma protestante. A reforma protestante não brotou fundamentalmente por aspectos teológicos ou por problemas de fé - ainda que as diferenças teológicas apareceram depois - mas, por questões morais.
Houve um sacerdote agostiniano, Martinho Lutero, que foi a Roma durante o papado mais notório da história, o do Papa Alexandre VI. Este Papa jamais ensinou nada que fosse contra a fé - o Espírito Santo não permitiu - mas, foi simplesmente, um homem mau. Teve nove filhos de seis diferentes concubinas. Promoveu ações contra aqueles que considerava seus inimigos. Martinho Lutero visitou Roma durante seu papado e se perguntava como Deus podia permitir que um homem tão mau fosse a cabeça visível da Sua Igreja . Regressou a Alemanha e observou todo tipo de problemas morais. Os padres tinham, publicamente, casos com mulheres. Alguns tratavam de obter dinheiro vendendo bens espirituais. Grassava uma imoralidade terrível entre os leigos. Ele se escandalizou com esses abusos desenfreados, como teria ocorrido com qualquer que ame a Deus, reagiu precipitadamente e com fúria, e fundou a sua própria igreja. Naqueles mesmos tempos, Deus suscitou muitos santos que combateram essa situação equivocada e trouxeram de volta as pessoas para a Igreja fundada por Cristo. São Francisco de Sales foi um deles. Colocando em risco a própria vida, entrou na Suíça, onde os calvinistas dominavam e eram muito populares, pregando o Evangelho com verdade e amor. Foi espancado várias vezes nas estradas e abandonado como morto. Um dia perguntaram-lhe qual era a sua posição em relação ao escândalo que causavam tantos dos seus irmãos sacerdotes. O que disse é tão importante para nós como o foi para os que o escutaram. Ele não ficou enrolando. “Aqueles que cometem esse tipo de escândalos são culpáveis do equivalente espiritual a um assassinato, destruindo com seu mau exemplo a fé das outras pessoas em Deus”. Mas, ao mesmo tempo advertiu aos seus ouvintes: “Mas eu estou aqui hoje entre vocês para evitar-lhes um mal ainda pior. Enquanto que aqueles que causam o escândalo são culpados de assassinato espiritual, os que acolhem o escândalo - aqueles que permitem que os escândalos destruam sua fé - são culpados de suicídio espiritual. São culpáveis de cortar pela raiz sua vida com Cristo, abandonando a fonte da vida nos Sacramentos, especialmente a Eucaristia.” São Francisco de Sales andou entre os suíços e os habitantes da Savóia tratando de prevenir que cometessem um suicídio espiritual por causa dos escândalos.
Por Pe. Faus em 12 de abril de 2010
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