Revolução” laica do Egito uniu bispos e imãs na defesa da liberdade.


A reportagem é de Roberto Monteforte, publicada no jornal L’Unità

É quem destrói que tem medo. É ingênuo quem atira. Ao contrário, é sábio e não ingênuo quem tem a coragem de dialogar. De escavar profundamente nas razões do outro. Encontrará tantas coisas em comum”.

Dom Vincenzo Paglia, bispo de Terni, na Itália, não tem dúvidas. Ele faz as honras da casa para o encontro Agenda de Convivência. Cristãos e Muçulmanos para um Futuro Juntos, promovido emRoma pela Comunidade de Santo Egídio.



É a ocasião para um encontro aproximado entre homens de fé e estudiosos, testemunhas diretas da revolução, para muitos imprevisível, que está invertendo os eixos do Norte daÁfrica. “É o momento de uma reflexão séria a ser feita juntos, cristãos e muçulmanos, a partir de temas concretos como a cidadania e a identidade religiosa; o papel das raízes espirituais; a cultura do ‘conviver’”, explica o professor Andrea Riccardi, fundador da comunidade de Trastevere, abrindo os trabalhos aos quais o ministro do Exterior italiano, Frattini, também participa.

Falam as testemunhas

Surge uma certeza: não é sobre o petróleo, sobre o gás ou sobre os lucros que se constroem verdadeiras relações entre Ocidente e aquele mundo. Ter relações só com as oligarquias e ser identificado com estas ou com os seus regimes corruptos não ajuda o Ocidente a construir uma relação com quem exige democracia, particularmente os jovens. “Uma geração – observa o patriarca de Alexandria do Egito, cardeal Naguib – que, graças às redes sociais, se encontraram nas praças para gritar o seu desejo de valores como justiça, liberdade, paz e igualdade”.


“São jovens que têm fome e sede de liberdade, de direito, de dignidade”, observa o arcebispo de Argel, dom Bader. “Nós, como bispos norte-africanos – acrescenta – defendemos as suas instâncias de liberdade e de futuro”. O que preocupa não é tanto o possível desvio islamista dos protestos, mas sim “a liberdade que os futuros governos deixarão ao povo, nas Constituições que irão redigir, na aplicação dos direitos, incluindo o da liberdade religiosa”. O perigo é se, no fim, a Sharia [lei islâmica] será aplicada.

Laicidade e sharia


É esse, de fato, um dos pontos nos quais se joga o futuro dessa “revolução” diferente. Por enquanto, no Egito, observa-se que o movimento é laico. O elemento religioso está presente, mas como riqueza da identidade nacional dos povos. O teólogo sunitaMohammed Esslimani, que viveu instante por instante os dias do protesto da ”Praça da Libertação” no Cairo não tem dúvida disso. Ele relatou o caso de uma jovem cristã que pôs no chão o seu precioso foulard [lenço de seda] para permitir que um jovem islâmico pudesse rezar. Ou do jovem copta, também ele na praça, apesar do apoio do Papa dos coptas, Shenuda III, ao presidente Mubarak. Gestos simples, mas significativos.

Al-Tahtawi, ex-embaixador egípcio na Líbia e porta-voz da Universidade de Al-Azhar, que renunciou para unir-se ao protesto da Praça Tahrir, vê dois riscos para o futuro: um confronto que pode se tornar duro com os militares e uma tentativa de conter o processo democrático. Sobre a Líbia e os destinos de Khadafi, o julgamento é unânime: quem ordenou matar seu povo inerme não tem futuro.

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