Meu proximo...Quem é?

“E quem é meu próximo?” (Lc 10,29).


Através da resposta de Jesus a essa pergunta, podemos compreender muito daquilo que o Senhor quis nos ensinar a respeito do verdadeiro amor e do verdadeiro serviço no Reino de Deus. Nos versículos anteriores Jesus explica ao doutor da Lei o caminho para a vida eterna: amar a Deus de todo o coração, de toda a alma, de todas as forças e de todo o entendimento, e ao próximo como a si mesmo (cf. Lc 10,27). Ou seja, a primeira e fundamental condição de salvação é a experiência de ser amado por Deus e de amá-lo.
Moysés Azevedo
Quando experimentamos o quanto somos amados por Deus e o quanto Ele derrama o seu amor em nossos corações (cf. Rm 5,5), somos capazes de amar verdadeiramente, não com um amor egoísta, humano, que busca a própria satisfação, mas com um amor que vem do coração de Deus, que ama gratuitamente, sem nada esperar em troca, que é fruto da Misericórdia. É por esse amor que somos salvos e que podemos ser verdadeiros instrumentos de salvação para os outros irmãos.

É sobre isso que fala a parábola do Bom Samaritano, e nós podemos interpretá-la de duas formas. Na primeira, vendo no Bom Samaritano o próprio Jesus, que desce dos céus, vem ao mundo, encontra o homem ferido e maltratado pelo pecado. Então, com seu amor cuida das suas chagas, cura os seus males, dispensa a ele todos os cuidados, tendo em vista sua cura e salvação.

A segunda forma seria ver no Bom Samaritano o homem, que tocado pela Misericórdia de Deus, tendo experimentado sua mão curadora, torna-se devedor de Deus, que não quer outra paga senão aqueles por quem deu sua própria vida. Assim como Deus fez com cada um de nós, assim devemos fazer com os irmãos que encontramos nas estradas da vida. Como fomos amados, curados, tratados, cuidados, assim também devemos fazer com todos os irmãos. Esta é a fonte do verdadeiro amor, da verdadeira caridade cristã, que não consiste em atos isolados de uma pseudo caridade, mas em uma vida transformada pelo amor que transborda em amor.

Dessa forma podemos compreender São João quando diz:

“Se alguém disser: “Amo a Deus”, mas odeia seu irmão, é mentiroso. Porque aquele que não ama seu irmão, a quem vê, é incapaz de amar a Deus, a quem não vê” (1Jo 4,20).

Porque aquele que verdadeiramente experimentou o amor de Deus em seu coração, não pode guardar esse amor só para si. Amar se torna um imperativo. Porque foi amado e porque ama verdadeiramente Aquele que o amou primeiro, deseja agradar-lhe, dar-lhe provas do seu amor, obedecer-lhe, amando aqueles por quem Ele deu a vida, e nos ordenou dar também a nossa. Pois esta é a prova de amor que Ele nos pede: que nos amemos uns aos outros como Ele nos amou (cf. Jo 15,12).

Por isso podemos dizer que o cristão é o homem do amor, o homem do serviço. Ele é a imagem de Jesus, o Servo de Iahweh, que veio ao mundo não para ser servido mas para servir e que ensina aos seus discípulos a sua missão: servir. Só sob a condição deles compreenderem isso e praticarem é que serão felizes (cf. Jo 13,17). Nesta passagem do Lava-pés, Jesus nos ensina o segredo da felicidade e mostra-nos a imagem do verdadeiro cristão, o homem com a toalha e a bacia nas mãos sempre pronto para servir aos seus irmãos.

A vida de Deus em nós depende também da nossa doação e serviço aos homens por amor a Cristo. Quando a nossa oração é feita em Espírito e em Verdade leva-nos ao compromisso profundo com Deus, e nele, com todos os homens. A oração e o serviço revelam a essência de Deus: o Amor. Pelo Amor de Deus que está no nosso coração e por meio da oração, vamos tendo a graça de, pelo serviço, ir descobrindo a Face de Deus em todos aqueles a quem Ele nos enviar. Assim não correremos o risco de, no Juízo Final, termos perdido a chance de reconhecê-lo em todos os homens, principalmente naqueles que, marcados pelo pecado, trazem sua imagem tão desfigurada e em cujo rosto só pela oração descobriremos o Rosto de Deus.

Moysés Louro de Azevedo Filho
Moderador da Comunidade Shalom


Artigo extraído da Shalom Maná - aberto a todo o Povo de Deus

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